As vacas leiteiras de alta produção converteram-se em animais muito sensíveis a qualquer alteração ambiental, em consequência do melhoramento genético de que foram alvo, exigindo alojamentos cada vez mais sofisticados para prevenir o stresse que levaria a perdas produtivas e económicas. As instalações e equipamentos da exploração leiteira devem ser concebidos por forma a reduzir a competição pelo alimento, água e locais de descanso. A competição é muito influenciada pelas instalações, pela densidade animal num determinado espaço, pela área disponível para distribuição de alimento e pela disposição dos bebedouros.
A chave do êxito ou do fracasso de uma exploração leiteira está muito focada no maneio alimentar, pois a alimentação da vaca leiteira representa 50% a 60% do custo total da produção de leite e em alguns casos pode atingir os 68%, quando o regime alimentar inclui elevados níveis de concentrado.
Os produtores têm como objetivo fornecer aos animais uma dieta alimentar equilibrada, ao mínimo custo de acordo com as suas necessidades produtivas e reprodutivas (Alqaisi et al., 2011).
A melhor forma de administração de alimento às vacas leiteiras é através das misturas completas designadas por TMR.
A utilização do Unifeed para misturar concentrados, silagens, fenos, palhas, minerais e vitaminas é um sistema que permite controlar e estabilizar o pH ruminal, aumenta a capacidade de ingestão de matéria seca, não permite que os animais segreguem os diferentes componentes da dieta misturada e diminui o risco de alterações digestivas.
A necessidade crescente de níveis de energia mais elevados, levou à elaboração de dietas com uma proporção de alimentos concentrados relativamente alta, no entanto as vacas continuam a necessitar de uma quantidade adequada de fibra fisicamente efetiva na dieta para manter uma função ruminal saudável.
O separador de partículas de Penn State fornece uma medida objetiva do tamanho da partícula e pode ser uma ferramenta útil para melhorar a nutrição global da vaca leiteira (Kononoff et al., 2003).
Este estudo foi realizado em 38 explorações leiteiras, distribuídas por 9 concelhos da região Norte, no período de março a setembro de 2017.
O trabalho teve duas fases distintas, uma que consistiu na realização de 38 inquéritos às explorações leiteiras e outra que resultou da recolha de amostras da dieta das vacas (TMR).
Os resultados globais deste trabalho são descriminados por indicadores estruturais, efetivo animal, alimentação e produção de leite (Quadro 1).
Quadro 1. Indicadores gerais de estatística descritiva das explorações alvo de estudo.
A SAU cifrou-se em 24,7±10,9ha, com um número médio de 97,6 vacas por exploração e com um encabeçamento de 7,3±2,2CN/hectare por exploração. Relativamente às instalações, obteve-se um comprimento dos cubículos de 230,1±18,3cm, contudo com valores mínimos muito reduzidos (160cm). O comprimento médio do bebedouro por vaca foi de 6,9 cm e nalgumas explorações o número de guilhotinas foi inferior ao número de vacas no estábulo (0,9±0,2 guilhotinas/vaca). No que se refere à alimentação, cada produtor administrava 46,3±4,1Kg de alimento por vaca. A produção de leite aos 305 dias nas explorações em estudo foi de 10.178,8±1.504,0Kg.
Encontraram-se diferenças significativas (P<0,05) entre grupos de produção para a produção de leite diária e aos 305 dias. No grupo de alta produção verificou-se que as vacas produziram 33,2±2,9kg/dia, enquanto no grupo de baixa produção foi de 25,4±3,2kg/dia. A produção aos 305 dias, no grupo de baixa produção cifrou-se em 8.803,42±611,8kg e no grupo de alta produção foi de 11.554,1±531,1kg (Quadro 2).
Quadro 2. Efeito do lote na produção diária e produção de leite aos 305 dias (kg).
O total de alimento fornecido oscilou entre 42 a 54kg por vaca nas explorações de alta produção. A quantidade média de palha fornecida foi de 1,5kg e de concentrado na ordem de 10kg por vaca. A maioria das explorações fornecia em média 3kg de silagem de erva, com exceção de uma exploração que estava a administrar 15kg/vaca. A silagem de milho registou um valor médio de aproximadamente 35kg/vaca, constituindo a principal forragem da dieta das vacas leiteiras (Gráfico 1).
Gráfico 1. Quantidade de alimento fornecido aos animais no grupo de alta produção.
Observou-se efeito (P<0,05) da quantidade de concentrado fornecido aos animais na produção de leite aos 305 dias, entre a classe mais baixa (≤8kg), com valor inferior de produção (8.960,4±1.017,5kg) comparativamente às classes superiores, cuja produção oscilou entre 10.420,4±1.504,2kg e 10.993,6±1.224,5Kg (Quadro 3).
Quadro 3. Efeito da quantidade de concentrado fornecido aos animais na produção de leite aos 305 dias.
Não se observaram diferenças significativas (P>0,05) entre explorações para o tamanho da partícula da dieta completa. E verificou-se que no crivo superior, os valores observados encontram-se bastante acima do intervalo considerado ideal (2-8%), com valores na ordem de 15,5 a 17,5%. No crivo inferior observou-se exatamente o contrário, ou seja, valores com frequências de metade (14,3 a 15,1%) daquilo que é referenciado como ideal (30 a 50%). Na base os valores foram um pouco superiores ao considerado ideal e apenas no crivo intermédio se observaram valores no intervalo considerado ideal, tendo revelado frequências médias de 36,8% e 38,9% para os grupos de alta e baixa produção respetivamente (Quadro 4).
Quadro 4. Tamanho de partícula da dieta completa (em percentagem) em quatro explorações.
Não se observaram diferenças entre grupos de produção na densidade animal (área/vaca no pavilhão), comprimento e largura das camas e de guilhotinas por vaca, tendo-se constatado que o espaço por vaca à manjedoura é insuficiente. O tamanho das partículas é importante na dieta das vacas de leite porque a partícula influencia de certa forma, o seu desempenho produtivo. Constatou-se que o crivo intermédio correspondeu ao intervalo ideal (30 a 50%). Os restantes crivos (superior e inferior) e a base mostraram valores bastante desajustados dos intervalos de valores considerados ideais. Considera-se por isso que apesar de grandes melhorias no maneio alimentar, existem ainda alguns pontos críticos que interessa considerar, por forma a obter o melhor desempenho dos animais.
Joaquim Lima Cerqueira, ESA - IPVC, CECAV - UTAD
Rui Belchior Cruz, ESA - IPVC
Manuel Diogo Salgueiro, UCANORTE XXI
José Pedro Araújo, CIMO (ESA-IPVC)