A batata (Solanum tuberosum) é, a nível mundial, um dos vegetais mais produzidos e, por isso, também dos mais presentes na alimentação humana. Segundo dados da FAO (Faostat -2014) o maior produtor mundial de batata é a China, seguindo-se a Índia e a Rússia. A nível europeu destacam-se a Alemanha, a Grã-Bretanha e a Polónia, Portugal ocupa o 73ª lugar dos produtores mundiais e a 25ª posição a nível europeu.
Como cultura de larga expressão e desenvolvimento, a batata atingiu níveis elevados de intensificação da produção. Deparando-se actualmente com inúmeros inimigos naturais e outros factores fitossanitários
Com o objectivo de maximizar o nível de produção, todos estes factores que possam interferir negativamente sobre a cultura devem ser atentamente vigiados pelos produtores.
De entre os vários problemas que afectam a cultura da batata, tais como escaravelho da batateira, alternariose, míldio, destaca-se a traça da batata (Phthorimaea opercuella). Atualmente é considerada como a praga que mais prejuízos provoca na batata, tanto durante o ciclo cultural, como durante o seu processo de armazenamento, originando perdas superiores a 70%. A traça da batata encontra-se hoje disseminada pela maioria dos países produtores do tubérculo.
Agente responsável
O P. opercuella é um insecto lepidóptero que como todas estas borboletas passam por quatro estádios de desenvolvimento: adulto, ovo, larva e pupa (Figura 2). No estado adulto (Figura 3) a traça é uma pequena borboleta de coloração acinzentada, com 10 a 15 mm de comprimento. As fêmeas têm hábitos crepusculares a nocturnos e pouca longevidade. Durante o dia escondem-se junto ao solo e na face inferior das folhas. Estas põem os ovos nos talos, nas folhas e nos olhos dos tubérculos à superfície.

Figura 2. Ciclo da vida de Phthorimaea operculella

Figura 3. Phthorimaea operculella adulta (Fonte: http:// agriculbio.pt/TRAÇA_DA_BATATA)
Cada fêmea põe, em média 200 ovos, durante o seu ciclo de vida, distribuídos em várias posturas. Os ovos apresentam uma coloração branca, são lisos e globosos. Dos ovos eclodem as larvas (figura 4), que surgem em média 8 dias após a postura, começando de imediato a penetrar na pele e polpa do tubérculo. As larvas podem atingir os 10 a 12 mm; a coloração corporal varia de castanho claro a verde ou rosa e a capsula cefálica castanha escura.

Figura 5. Batata infectada pela lavra da Traça da Batata
Importante será referir que é nesta fase que P. opeculella mais estragos provoca. Nas folhas, as lagartas alimentam-se do parênquima, perfurando galerias no limbo foliar reduzindo assim a capacidade fotossintética da planta. Ao nível do caule perfuram desde axilas foliares a meristemas apicais, abrindo galerias e provocando a murchidão da planta. Nos tubérculos, por sua vez, o ataque resulta na abertura de galerias, nas quais se observam detritos (Figura 5), que causam graves prejuízos à cultura, quer directos, quer indirectos. Os directos resultam da desvalorização comercial das batatas, os indirectos é que as galerias formadas são uma porta de entrada a outros fungos e bactérias que desvalorizam ainda mais as batatas.
Os principais prejuízos são causados sobre os tubérculos durante o período de armazenamento. Findo o desenvolvimento larvar, esta deixa o tubérculo ou a parte aérea da planta, instalando-se no solo, em folhas secas, resíduos vegetais, caixas ou em paredes e pisos de armazéns, com a finalidade de se transformarem em pupa. A duração deste estado é de 10 a 30 dias dependendo das condições climáticas especialmente de temperatura. No final deste período eclodem os adultos, iniciando assim uma nova geração desta praga. Como já foi referido, a P. operculella pode dar origem a várias gerações por ano. Em zonas Mediterrânicas a traça da batata pode atingir entre 6 a 7 gerações por ano. Em Portugal, porém o número de gerações não excede as 3 anuais.
Temperaturas em torno dos 25oC, nunca abaixo dos 10oC, associadas a um clima geralmente seco, constituem o melhor ambiente para o desenvolvimento de P. operculella. Em locais mais quentes, como armazéns, o ciclo repete-se durante o Inverno. Em condições mais frias, como no campo, a traça hiberna na forma de pupa. De referir que, em Portugal, as pupas enterradas no solo, emergem como adultos nos meses de Março ou Abril. Como as perdas decorrentes desta praga são bastante consideráveis os produtores de batata devem monitorizar, prevenir e utilizar todas as práticas culturais ao alcance para minimizar os prejuízos causados pela traça.
Medidas preventivas no controlo da traça da batateira
A traça é de difícil combate. Podem ser tomadas algumas medidas preventivas, quer no campo, quer nos armazéns de modo a diminuir a importância do ataque:
PREPARAÇÃO DO SOLO
Preparar o solo em condições de humidade adequadas de forma a evitar a formação de torrões, que são o refúgio de várias pragas da batata.
ESCOLHA DA VARIEDADE
Variedades de ciclos mais curtos, antecipam as datas de colheita e deste modo evitam a fase de maior incidência da praga. Variedades com uma tuberização mais profunda, estão mais afastados da superfície e por isso menos expostos ao ataque das larvas.
PLANTAÇÃO
Deve ser realizada a uma profundidade adequada para a variedade, calibre da semente e tipo de solo. Uma plantação superficial aumenta a exposição dos tubérculos às larvas.
AMONTOA
Deve ser bem feita, actuando como barreira física dificultando o contacto da praga com as batatas. Pode ser necessária uma amontoa adicional para tapar os buracos e fendas dos camalhões originados pelo engrossamento das hastes, crescimento de tubérculos superficiais, acção das chuvas e das regas.
REGA
Manter a superfície do solo sempre húmida, de modo a não deixar secar, impede a formação de fissuras as quais permitem a postura dos ovos pela traça. A rega por aspersão, realizada sempre que possível, mesmo após a dessecação da rama, contribui para criar um ambiente desfavorável ao desenvolvimento dos insectos.
TRATAMENTO COM INSECTICIDAS
É importante estar atento ás circulares do Serviço Nacional de Avisos Agrícolas. O tratamento deve ser realizado tendo por base a estimativa de risco da praga, sendo necessário acompanhar a sua evolução ao longo do ciclo da cultura.
COLHEITA
O atraso na colheita dos tubérculos após a dessecação da rama, propicia um maior ataque das larvas, que no final do ciclo, na ausência de folhas verdes pode enterrar-se e perfurar os tubérculos. A colheita deve ser antecipada o mais possível, e os tubérculos, separados da rama, retirados e armazenados o mais rapidamente possível. Uma pequena quantidade de tubérculos infectados pode contaminar todo o stock armazenado.
ARMAZENAMENTO
Os armazéns devem ser muito bem limpos, varridos e desinfectados nas vésperas da entrada da nova colheita. Utilização de insecticidas apropriados sobre as batatas armazenadas, de modo a destruir as lavras provenientes dos ovos oriundos do campo. A captura massiva de machos adultos é uma alternativa autorizada. Esta é feita em armadilhas tipo “delta” ou armadilhas de funil e feromonas sexuais. É absolutamente contra-indicada a pulverização directa das batatas armazenadas com caldas contendo insecticidas não autorizados para esse efeito, dado os perigos para a saúde humana e animal.
Eng.º Manuel Marques, UCANORTE XXI