Sabemos que uma grande percentagem dos nossos solos são ácidos ou ligeiramente ácidos. Esta característica é afetada por vários fatores, nomeadamente: material de origem, precipitação, a decomposição da matéria orgânica, vegetação nativa, tipo de cultura, profundidade do solo, adubação azotada e inundação.

O termo pH define a acidez ou a alcalinidade relativa de uma substância, e a escala de pH cobre uma amplitude de 0 a 14. A Figura 1 mostra os graus de acidez e alcalinidade encontrados na maioria dos solos agrícolas.

Figura 1. Graus de acidez e alcalinidade

Num solo ácido as culturas encontram condições difíceis para a sua implementação, desenvolvimento e produção. A acidez limita a fertilidade natural dos solos e a eficácia dos adubos no fornecimento de nutrientes à planta.

 

Disponibilidade dos nutrientes no solo de acordo com o pH

Com exceção do ferro, cobre, manganês e zinco, que apresentam diminuição na sua disponibilidade com a elevação do pH, todos os demais (azoto, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre, molibdénio e cloro) têm a sua disponibilidade aumentada pelo uso racional da calagem em solos ácidos.

O conhecimento deste facto é da maior importância, pois indica que uma das maneiras mais adequada para aumentar a eficiência dos fertilizantes contendo macronutrientes primários e secundários, em solos ácidos, é o uso de calcário na dosagem correta.

Entre os vários efeitos da calagem em solos ácidos, destaca-se o aumento da disponibilidade da maioria dos nutrientes essenciais para o normal desenvolvimento das plantas.
Para fins práticos, considera-se a faixa entre 6,0 e 6,5 adequada à maioria das culturas, tal como se verifica na Figura 2 (sombreado).

Figura 2. Relação entre a disponibilidade de nutrientes e o pH do solo

Factos importantes a reter

  • Concentrações de elementos, tais como alumínio, ferro e manganês, podem atingir níveis tóxicos, porque a sua solubilidade aumenta nos solos ácidos;
  • A toxicidade do alumínio é, provavelmente, o fator limitante mais importante para as plantas em solos ácidos;
  • Os organismos responsáveis pela decomposição da matéria orgânica e libertação do azoto, fósforo e enxofre podem estar em pequeno número e com pouca atividade;
  • O cálcio pode ser deficiente quando a capacidade de troca catiónica é extremamente baixa. O mesmo pode acontecer com o magnésio;
  • A performance dos herbicidas aplicados ao solo pode ser afetada, de modo adverso, quando o pH do solo é baixo;
  • A fixação simbiótica do azoto pelas leguminosas é severamente reduzida;
  • Os solos argilosos, com alta acidez, são menos agregados, com baixa permeabilidade e arejamento;
  • A disponibilidade de nutrientes como o fósforo e o molibdénio é reduzida;
  • Há um aumento na tendência de lixiviação de potássio.

 

A Figura 3, mostra como a amplitude de pH influencia a disponibilidade de nutrientes e outros elementos do solo.

Figura 3. Influência da amplitude de pH e a disponibilidade nutrientes e outros elementos do solo.

Os níveis desejáveis de pH variam de acordo com a cultura. Muitas culturas desenvolvem-se melhor quando o pH está entre 6-7, mas acidez não retarda o crescimento de todas as culturas. Algumas necessitam de condições ácidas para o seu desenvolvimento como mostra a Tabela 1.

Tabela 1. Níveis desejáveis de pH de acordo com a cultura

Como o calcário reduz a acidez do solo?

O calcário aumenta o pH, convertendo alguns iões de hidrogénio em água. Acima de pH 5,5 o Al precipita como Al (OH)3 e, assim, a sua ação tóxica e a principal fonte de H+ são eliminadas. A reação funciona assim: enquanto iões de cálcio (Ca2+) do calcário substituem o alumínio (Al3+) nos pontos de troca, o ião carbonato (CO3-2), reage com a solução do solo criando um excesso de iões hidroxila (OH-) que, em seguida, reagem com o h+ (excesso de acidez), formando água. O processo global é ilustrado na Figura 4.

Figura 4. Reação calcário – pH

Época e frequência das aplicações de calcário

As afirmações generalizadas sobre a frequência da calagem são inadequadas, isto porque muitos fatores estão envolvidos. A melhor forma para se determinar a necessidade de correção em calcário é analisando o solo através de uma amostra de terra, que poderá ser feita a cada três anos, mais frequentemente em solos arenosos e solos irrigados. Os fatores que influenciam a frequência da calagem são:

  • Textura do solo: os solos arenosos precisam de receber calagem com mais frequência do que os solos argilosos;
  • Doses de adubos azotados: altas doses de adubos amoniacais geram acidez;
  • Taxas de remoção pelas culturas: dependendo da cultura, produtividade e partes colhidas, quantidades substanciais de cálcio e magnésio podem ser removidas;
  • Quantidades de calcário aplicado: doses mais elevadas normalmente significam que o solo não necessita de nova calagem com frequência. Não devemos fazer calagens exageradas;
  • Amplitude de pH desejada: a manutenção do pH alto geralmente significa que o calcário precisa de ser aplicado com mais frequência do que quando o pH médio é satisfatório.

Em suma, podemos afirmar que a correção do pH do solo traz vários benefícios às plantas:

  • Melhora a atividade biológica do solo;
  • Aumenta a disponibilidade dos nutrientes, melhorando a performance das plantas aumentando a produtividade;
  • Facilita o desenvolvimento das raízes melhorando a absorção dos elementos necessário ao desenvolvimento da cultura;
  • Rentabiliza o investimento em adubos aumentando a eficiência dos nutrientes.

Texto: Equipa Técnica Ucanorte XXI